É preciso falar sobre isto #1

A educação sexual não começa só na adolescência. Não pode. Infelizmente, a maioria das nossas crianças vai ser exposta a algo relacionado com o tema sexual muito antes disso. E nós, Pais, Avós e Educadores em geral, precisamos de dar-lhes ferramentas para saberem viver isso corretamente.
É algo cultural, por exemplo, não questionarmos as crianças relativamente a se querem ser tocadas, ou não. Não. Não acredito que, se obrigar o meu filho, a dar um beijo à avó para a cumprimentar, que estou a permitir que ele mais tarde, se abusado (Deus me livre), interprete isso como algo inócuo porque o obriguei a dar um beijo à avó. MAS, as vontades das crianças devem ser ouvidas. Às vezes, esquecemo-nos disto. Eu, não obrigo o António a dar beijos (salvo raras exceções) mas, obrigo a que, em substituição do beijo, diga um "Olá" ou algo semelhante às pessoas a cumprimentar.
No outro dia, fomos ao centro de saúde para uma consulta. A minha médica é uma rapariga nova e fantástica. Disse-me que queria ver o António despido, inclusivamente a pilinha dele. O rapaz, que estava ao meu lado, ficou muito chocado. Abriu a boca e, da mesma maneira que a médica o ignorou quando me disse que O queria ver, ele ignorou-a e disse: "Não, não Mamã. Ninguém me vê a pilinha!". A médica que até já tinha elogiado o comportamento dele (não é santo, mas estava num dia bom :) ), ficou surpreendida e a olhar para mim à espera de uma justificação. Passei então a explicar que, desde muito cedo, que o António sabe que o que está dentro das cuecas é só dele. E que ninguém pode mexer sem lhe pedir autorização, e, mexendo, deve dizer ao Pai e à Mãe quem o fez. A médica sorriu e pediu desculpa ao António. E disse-lhe que ele tinha toda a razão em não deixar. E, quando o examinou, pediu que ele lhe mostrasse o dito cujo. Este é um exemplo claro que, não é falta de formação ou civismo esquecermo-nos das crianças. É cultural. Mas somos nós, Mães, Pais, Avós, Educadores que somos os agentes desta mudança. E pode até parecer exagero começar tão cedo, mas acreditem que, os predadores estão em todo o lado. Todo. E, ainda que não avancem para o abuso grave, nenhuma criança deve experienciar o olhar sexual de um adulto. E, se o experienciar, deve ter a confiança para dizer à Mãe e ao Pai para que estes intercedam por ele. E para isso, somos nós que temos que definir os limites do aceitável ou não. Porque, não tendo estas ferramentas, é difícil para a criança perceber se o limite foi cruzado ou não.




*De notar que esta é a minha opinião sobre o assunto. Pode estar inviesada por algum conhecimento mais "científico" dada a minha formação académica, mas é 99% fruto da minha experiência enquanto mãe e criança. 

Comentários

  1. Este é daqueles temas que temos sempre um medo tal de falar mas que é preciso ser encarado de frente para salvaguardarmos as nossas crianças dando-lhes também a eles ferramentas de defesa contra estes invasores da inocência e que, como vemos nas notícias, às vezes estão perto, demasiado perto que, os pobres inocentes podem considerar que determinados comportamentos são para confiar.
    Tens razão quando dizes que somos nós Pais, Avós e Educadores que temos que ir dando uma noção de pertença do corpo e de limites a quem quiser invadir esse espaço, sem nunca fragilizar, assustar ou melindrar a criança.
    E a essa gente, que nem pode ser chamada de gente, a esses predadores, essas coisas haviam de ter uma morte horrorosa e excruciante sempre que lhes passasse uma pensamento destes pela cabeça.

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